13 janeiro 2014

Madrugada de domingo


Nunca me vi tão mal como estava naquele dia de domingo. Eram 2 horas da madrugada, não tinha sono, só uma cabeça fervilhando, cheia de preocupações, afazeres, angustias e neuras, muitas neuras. Acho que nem a minha vó tem tantas preocupações quanto eu.
Levantei da cama e sentei em uma poltrona velha vermelha que ganhei de presente da minha vozinha, olhei pra bagunça perto da porta e desejei que as confusões da minha vida se resumissem ali. Sentada, olhando pra sei lá aonde com uma cara de lerda e um livro chato na mão, me perguntei como consegui chegar aquele ponto. Me olhei no espelho e vi um reflexo de dar dó.

Me olhei mais uma vez no espelho, sentei de novo naquela poltrona feia, fechei os olhos e lembrei de como eu era feliz.Tinha amigos, um bom vizinho, um professor de matemática gato, um namorado gostoso e uma melhor amiga, a melhor de todo o mundo. Coisas pequenas que hoje fazem muita falta. Chorei ao lembrar que tudo aquilo era meu e, como eu perdi tudo e todos num piscar de olhos.
Ouvi um barulho vindo do quarto ao lado, corri pra cama, me enrolei e fingi estar dormindo, era minha mãe fazendo suas visitas noturnas a geladeira. Olhei pro teto e perguntei pro cara lá de cima o que ele queria comigo, pra que diabos ele estava fazendo aquilo, devia estar rindo as minhas custas.
Depois de alguns minutos pedi desculpas, eu nunca entendi porque ele estava fazendo aquilo, mas não podia ficar brigada com ele, o estrago poderia ser muito maior.

Fiquei quieta até minha mãe voltar pro seu quarto depois de um belo assalto. Ela nem imaginava o que eu fazia todas as noites, sentar numa poltrona vermelha e chorar de saudade. É um segredo, só eu e o carinha lá de cima sabemos. Escutei um berro da minha vizinha e prometi nunca ser uma mãe desnaturada como ela e principalmente, como minha mãe. Não permitiria de jeito nenhum que minha filha sentisse tudo que eu senti, então pouco tempo. Descobrir o amor, entender o verdadeiro significado da palavra amizade, ter um grande amigo, sonhar com um ensino médio maravilhoso, perder alguém importante, sentir borboletas no estomago, vê seus sonhos irem embora, chorar com a despedida, conhecer um novo mundo, não se encaixar nesse mundo e ainda viver sozinha, em plena puberdade. É muita coisa pra uma pessoa só, não acha?

Um grande absurdo, como a vida consegue ser tão boa e má, de uma só vez. Ela deve ser muito mal amada mesmo, pra querer fazer tantas brincadeiras comigo. Que minha vida não seria fácil eu já sabia, mas ninguém nunca me disse que seria esse espetáculo de drama e comédia. Eu só queria ser como aquelas mulheres de comercial de margarina, ou aquelas de propagandas de carros. Lindas, com um cabelo impecável, capaz de permanecer intacto mesmo com o vento daquela estrada nostálgica, duas crianças no banco de trás parecidas com anjinhos e, claro, um marido gato no volante. Normal né? Só comprar um carro e pegar estrada.

Eu sempre quis ser normal. Talvez nem precise tudo isso. Só quero uma vida tranquila, morar numa casinha com varanda, ser amada pelo meu marido mesmo depois de deixar uma calcinha no banheiro, ter dois filhos com alma de anjinhos, um rottweiler e um buldogue, uma kombi estilo hippie na garagem pra viajar nos finais de semana, um emprego legal, um chefe legal, um cabelo blindado e talvez alguma grana pra viajar até a terra da rainha. Eu quero ser alguém que eu admire. Que eu me olhe no espelho e não sinta dó. Alguém legal. Que minha filha olhe pra mim e diga "nossa mamãe, quero ser como você!". Eu quero ser o orgulho da minha mãe, a melhor esposa pro meu marido, a melhor mãe do mundo, a melhor amiga, a melhor irmã, a melhor versão de mim mesma.

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